Introdução
Robert Owen (1771-1858), um fabricante têxtil galês que se tornou reformador social, é amplamente reconhecido como um pioneiro do socialismo utópico e do movimento cooperativo. Suas ideias, enraizadas na crença de que o caráter humano é moldado pelas condições ambientais e não pelo controle individual, tinham a pretensão visavam criar uma sociedade mais justa e harmoniosa. No entanto, seus ambiciosos esforços para implementar essas ideias enfrentaram desafios significativos, levando a vários fracassos notáveis.
Contexto e Histórico
Nascido em 14 de maio de 1771, em Newtown, País de Gales, Owen adquiriu riqueza e influência por meio de sua gestão das fábricas de New Lanark, na Escócia, onde implementou reformas progressistas. Suas experiências durante a Revolução Industrial, testemunhando as duras condições enfrentadas pelos trabalhadores, especialmente as crianças, moldaram sua visão de reforma social. No início do século XIX, ele se tornou um proeminente defensor do socialismo utópico, buscando combater a pobreza, a desigualdade e a exploração por meios práticos e teóricos.
Contudo, apesar de se classificar um socialista, Owen era um típico empreendedor. Após fazer fortuna em sua fábrica em New Lanark, ficou convicto de suas próprias ideais e decidiu embrenhar-se em um empreendimento ainda mais ambicioso, New Harmony. O resultado foi um fracasso, em curto prazo, tendo perdido a maior parte de sua fortuna nesse empreendimento.
Mais de uma dúzia de comunidades owenitas foram estabelecidas nos EUA entre 1825 e 1830, com pelo menos 10 documentadas, e sete no Reino Unido (incluindo a Irlanda) entre 1821 e 1845. Nenhuma dessas comunidades teve sucesso a longo prazo, todas fracassando em poucos anos devido a desafios econômicos, organizacionais e sociais.
Ideias-chave de Robert Owen
As ideias de Owen eram multifacetadas, com foco na melhoria das estruturas sociais por meio da educação, da vida cooperativa e dos direitos dos trabalhadores. A tabela a seguir resume seus principais conceitos:
| Ideia | Descrição |
| Melhorias nas Condições de Trabalho | Defendeu melhores condições nas fábricas, incluindo salários justos, redução da jornada de trabalho e restrições ao trabalho infantil. Em New Lanark, implementou reformas como redução da jornada de trabalho e melhoria das condições de vida. |
| Educação ao Longo da Vida | Acreditava na educação contínua para o desenvolvimento pessoal, estabelecendo escolas como o Instituto para a Formação do Caráter, com foco no caráter em detrimento das habilidades profissionais. Apoiou escolas gratuitas e mistas. |
| Comunidades Utópicas | Propôs vilas autossuficientes de unidade e cooperação, com 500 a 3.000 pessoas em 1.000 a 1.500 acres, com instalações compartilhadas (cozinhas, refeitórios) e criação comunitária de crianças após os três anos de idade, visando um “Novo Mundo Moral”. |
| Socialismo e Cooperação | Criticou o individualismo do capitalismo, defendendo abordagens coletivas. Apoiou o movimento cooperativo, incluindo a Bolsa Nacional de Trabalho Equitativo (1832), usando notas de trabalho como moeda. |
| Direitos dos Trabalhadores | Defendeu sindicatos, pressionou por reformas legislativas, como a redução da jornada de trabalho infantil, e propôs uma jornada de trabalho de oito horas com o lema “oito horas de trabalho, oito horas de recreação, oito horas de descanso”. |
| Secularismo | Crítico da religião organizada, desenvolveu um sistema de crenças secular que enfatizava o pensamento racional, influenciando as visões da classe trabalhadora em 1839 por meio da Associação de Todas as Classes de Todas as Nações (1835). |
Para Owen, o caráter humano é formado pelas circunstâncias. Ele argumentava que submeter os indivíduos a influências físicas, morais e sociais adequadas desde a infância era fundamental para a reforma social, um princípio que ele articulou em obras como “Uma Nova Visão da Sociedade” (1813).
É importante notar que o socialismo de Owen não questiona a propriedade privada dos meios de produção, nem busca a tomada do poder pela força, nem qualquer uma das propostas mais radicais dos anos seguintes. Seu objetivo é melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, o que o coloca não como um esquerdista radical estrito, mas muito mais próximo dos esquerdistas moderados.
Tentativas de Implementar Suas Ideias
Os esforços de Owen para colocar suas ideias em prática incluíram tanto reformas práticas em New Lanark e nas comunidades experimentais, quanto iniciativas legislativas e organizacionais. Abaixo, uma análise detalhada dessas tentativas, muitas das quais fracassaram:
– Reformas de New Lanark: Em New Lanark, Owen conseguiu melhorar as condições de trabalho e de vida, incluindo a construção de escolas e a redução da jornada de trabalho infantil. Esse modelo tornou-se um local de peregrinação para os reformadores, mas não foi replicado em larga escala devido à dependência de sua gestão e recursos pessoais.
– Comunidades Utópicas:
- New Harmony, Indiana (1825-1827): Owen comprou este assentamento para criar uma comunidade utópica, atraindo mais de 1.000 moradores ao final de seu primeiro ano. O objetivo era incorporar sua visão de vida cooperativa, mas foi dissolvido em 1827, após cerca de dois anos.
- Outras comunidades nos EUA: Incluíam Blue Spring (perto de Bloomington, Indiana), Yellow Springs (Ohio) e Forestville Commonwealth (Earlton, Nova York), todas encerradas antes de New Harmony, em abril de 1827.
- Orbiston, Escócia (1825): Orbiston enfrentou desafios com financiamento, organização interna e capacidade de mudar a mentalidade de seus habitantes, o que levou ao seu colapso em 1827.
- Ralahine, Condado de Clare, Irlanda (1831-1833): Bem-sucedida por 3,5 anos, mas fracassou devido às dívidas de jogo do proprietário.
- Tytherley (Harmony Hall), Hampshire, Inglaterra (1839-1845): Também conhecida como Queenwood, visava criar uma sociedade cooperativa e autossuficiente, baseada nos princípios socialistas de Owen. No entanto, o projeto enfrentou desafios financeiros e organizacionais significativos, fracassando em atingir seus objetivos.
- Colônia Manea, Cambridgeshire (final da década de 1830): Lançada pelo discípulo William Hodson, fracassou em poucos anos, após o que Hodson emigrou para os EUA.
– Esforços legislativos e organizacionais:
- Reforma fabril (1815): Propôs a redução da jornada de trabalho infantil nas fábricas, derrotada em 1815. Em 1817, a mobilização pela reforma fabril teve pouco efeito, levando-o a se concentrar no socialismo teórico.
- Grand National Consolidated Trades Union (GNCTU, 1833-1834): Reuniu 500.000 trabalhadores, mas faliu devido à oposição dos empregadores e do governo.
- National Equitable Labour Exchange (1832-1833): Utilizou notas de trabalho como moeda, fracassou após cerca de um ano devido a desafios práticos e à falta de adoção.
– Esforços Internacionais: Após Nova Harmonia, uma tentativa de instituir um experimento comparável no México em 1828 também fracassou, esgotando ainda mais os recursos de Owen.
Figura 19. Representação da Nova Harmonia, baseada nas concepções de Owen.

Autor. F. Bates
Fonte. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:New_Harmony,_Indiana,_por_F._Bates.jpg
Razões para os fracassos
Os fracassos das iniciativas de Owen podem ser atribuídos a uma combinação de fatores internos e externos, conforme detalhado na tabela a seguir:
| Razões do fracasso | Detalhes |
| Falta de Soberania Individual e Propriedade Privada | A busca da felicidade de acordo com as próprias concepções e os incentivos da iniciativa privada estavam em grande parte ausentes em Nova Harmonia. |
| Membros Heterogêneos | Nova Harmonia tinha grupos diversos (radicais, teóricos, oportunistas), levando a conflitos internos e falta de coesão. |
| Disputas Religiosas e Governamentais | Desentendimentos sobre religião e governança causaram divisão e tentativas frustradas de reorganização em comunidades como a Nova Harmonia. |
| Perda Financeira | Owen perdeu uma riqueza significativa, incluindo 80% (£ 40.000) após se retirar da Nova Harmonia em 1828, limitando esforços futuros |
| Oposição de Empregadores e Governo | A GNCTU e as bolsas de trabalho enfrentaram forte oposição, levando ao colapso. |
| Falta de Diligência e Responsabilidade | Nova Harmonia carecia da disciplina e responsabilidade vistas em Nova Lanark, contribuindo para o fracasso. |
| Ataque à Religião | As críticas públicas à religião alienaram seus apoiadores, reduzindo sua influência. |
| Desafios práticos | As comunidades enfrentavam dificuldades com sustentabilidade financeira, conflitos internos e manutenção da autossuficiência. |
Essas razões destacam a complexidade da implementação de reformas sociais utópicas em sociedades humanas onde as pessoas não estão dispostas a abrir mão de seus desejos e ambições para ser o que os reformadores desejam que sejam.
| Chris Calton sobre Robert Owen e outros utópicos Chris Calton é pesquisador em Habitação e Desabrigados no Independent Institute. Ele obteve seu doutorado em História pela Universidade da Flórida. Em seu artigo “Os Primeiros Socialistas: Os Saint-Simonianos e os Utópicos”, escrito para o Instituto Von Mises, ele escreveu sobre as comunidades utópicas de Owen: “Sem surpresa, as comunidades utópicas fracassaram, mas os utópicos compartilhavam duas ideias importantes que sobreviveram em teorias posteriores. A primeira é sua teoria da natureza humana. Derivada da noção de tábula rasa de John Locke, os pensadores consideraram cada vez mais o papel do ambiente social na formação do comportamento humano. Owen e Fourier representam o determinismo social extremo. Esta foi uma base importante de sua sociedade. Eles sustentavam que, se pudessem criar o “meio social” adequado, elementos incômodos da natureza humana, como o interesse próprio individual, desapareceriam. Em contraste com a ideia de Sismondi de um conflito entre o interesse individual e o interesse geral, Owen e Fourier acreditavam que os interesses individuais se tornariam naturalmente subordinados ao coletivo. Esta é a segunda ideia importante que unia os utópicos. Enquanto o coletivismo estava implícito na ideia de Sismondi de um “interesse geral” e tinha raízes históricas nos mosteiros cristãos, Owen e Fourier ofereceram a primeira expressão formal da coletivização socialista plena.” (O artigo completo pode ser lido em https://mises.org/mises-wire/first-socialists-saint-simonians-and-utopians) |
Conexão com o Diagrama de Mentalidades Políticas
Robert Owen é classificado como Socialista (esquerdista radical) no Diagrama Circular de Mentalidades Políticas Ocidentais, posicionado próximo à fronteira entre Socialistas e Social-Democratas (esquerdistas moderados). Sua visão utópica de comunidades cooperativas, crítica ao capitalismo e ênfase na igualdade coletiva alinham-se aos princípios socialistas, enquanto suas reformas práticas, foco na educação e experimentos iniciais compatíveis com o mercado ecoam elementos Social-Democratas e Liberais Modernos. Comparado a Fourier, Owen é mais prático e menos esotérico; comparado a Saint-Simon, ele é mais focado na comunidade e menos elitista. Essa posição reflete sua mistura de coletivismo radical com pragmatismo reformista.
Legado e Influência
Apesar desses fracassos, as ideias de Owen tiveram um impacto duradouro. Sua visão de “vilas de unidade e cooperação” e sua defesa da ajuda mútua inspiraram o movimento cooperativo. Suas ideias foram adaptadas para se tornarem mais práticas, e sua ênfase na educação influenciou programas de aprendizagem cooperativa.
Citação Notável:
“Qualquer caráter geral, do melhor ao pior, do mais ignorante ao mais esclarecido, pode ser conferido a qualquer comunidade, até mesmo ao mundo em geral, pela aplicação de meios adequados; meios esses que estão, em grande parte, sob o comando e controle daqueles que têm influência nos assuntos dos homens.” (Uma Nova Visão da Sociedade, Primeiro Ensaio, conforme citado na Wikipédia: Robert Owen).
| Utopia e a destruição da natureza humana Fiódor Mikhailovich Dostoiévski (1821-1881) foi um romancista russo, considerado um dos maiores romancistas de todos os tempos. Ele critica ideias socialistas utópicas (como aquelas semelhantes ao determinismo ambiental de Owen) em Notas do Subterrâneo, argumentando que tentar moldar o caráter humano em um estado perfeitamente racional e harmonioso por meios controlados destruiria aspectos essenciais da natureza humana — como o livre-arbítrio, a irracionalidade e o impulso para a escolha independente — levando à rebelião e à autodestruição inevitáveis: “Derrame sobre ele todas as bênçãos terrenas, afogue-o em êxtase para que nada além de bolhas dance na superfície de sua êxtase, como em um mar… e mesmo assim, por capricho, apenas por tédio, ele criará destruição. […] Ele até arriscará seu pão de mel e desejará propositalmente o absurdo mais pernicioso, a insignificância mais antieconômica, apenas para misturar a todo esse bom senso positivo seu próprio elemento pernicioso e fantástico. São precisamente seus sonhos fantásticos, sua estupidez mais banal, que ele desejará manter, com o único propósito de confirmar para si mesmo (como se fosse tão necessário) que os seres humanos ainda são Seres humanos e não teclas de piano, que, embora tocadas com as próprias mãos pelas próprias leis da natureza, correm o risco de serem tocadas com tanta frequência que, fora do calendário, será impossível desejar qualquer coisa.” |
Conclusão
Algumas ideias de Robert Owen eram e permanecem validas, como a busca de melhores condições de trabalho e educação ao longo da vida. Contudo, suas tentativas de implantação de comunidades socialistas utópicas, como Nova Harmonia e outras comunidades experimentais, fracassaram devido a conflitos internos, perdas financeiras, ausência de incentivos corretos para a produção, além de outras razoes. Não obstante esses fracassos, o legado de Owen perdura no movimento cooperativo.
Textos selecionados
Robert Owen. SEGUNDO DISCURSO SOBRE UM NOVO SISTEMA DE SOCIEDADE 1825
(…)
O fato é, e estou extremamente ansioso para que todas as partes me compreendam plenamente, que o sistema que proponho agora para a formação e o governo da sociedade se baseia em princípios não apenas completamente diferentes, mas diretamente opostos ao sistema de sociedade que até agora tem sido ensinado e praticado em todos os tempos, em todas as nações; e, até que a opinião pública possa ser elevada a este ponto, não serei compreendido; minha tentativa de explicação certamente falhará, e apenas uma inexplicável confusão de ideias permanecerá. O erro deve ser meu; ainda não fui suficientemente explícito; mas, nesta ocasião, devo me esforçar para contrastar os dois sistemas de tal forma que não seja mal interpretado. O antigo sistema do mundo, pelo qual me refiro a todos os procedimentos passados e presentes da humanidade, pressupõe que a natureza humana é originalmente corrupta — que o homem forma sua própria crença e seu próprio caráter — que, se estes forem formados de uma maneira específica, o indivíduo merecerá uma recompensa artificial, tanto aqui como no além; mas se essa crença e esse caráter não forem assim formados, o indivíduo merecerá uma punição artificial tanto aqui como no além. A teoria do antigo sistema baseia-se, portanto, em noções diretamente opostas à nossa natureza, e sua prática consiste em recompensas e punições individuais.
O novo sistema pressupõe que a natureza humana é agora o que sempre foi e será, e o que o poder que a produziu a formou para ser originalmente; que o homem não cria sua própria crença, nem seu próprio caráter, físico ou mental; que sua crença e caráter são uniformemente criados para ele, e que ele não pode possuir mérito ou demérito para a formação de nenhum dos dois; que ele é um ser composto, formado pelas impressões causadas por circunstâncias externas sobre sua natureza individual e, como não tinha vontade, conhecimento ou poder para decidir sobre a criação de nenhum dos dois, não pode se tornar um objeto racional para recompensa ou punição individual; que o homem é um ser formado para ser irresistivelmente controlado por circunstâncias externas e para ser compelido a agir de acordo com o conhecimento que essas circunstâncias produzem nele; que o conhecimento desse fato o obrigará a se familiarizar com a natureza das circunstâncias, de modo a compreender os efeitos que elas produzirão sobre a natureza humana e, por meio desse conhecimento, o obrigará a governar todas as circunstâncias sob seu controle, para o benefício de sua própria geração e das gerações seguintes.
O antigo sistema foi influenciado em todas as épocas por algumas noções imaginárias, sob o nome de religião, mas essas noções foram, em todos os países, uniformemente opostas aos fatos e, em consequência, todas as mentes se tornaram, assim, mais ou menos irracionais. O novo sistema, como afirmei anteriormente, adota uma religião derivada de fatos que demonstram o que a natureza humana realmente é, e cujos fatos dão ao homem todo o conhecimento que ele possui a respeito de si mesmo; é, portanto, chamada de religião racional, ou uma religião de verdade demonstrável, de inteligência, de caridade e benevolência universais, e derivada da evidência de nossos sentidos.
O antigo sistema mantém seus devotos na ignorância, torna-os meros seres localizados e escravos perpétuos de uma combinação das circunstâncias mais inferiores e piores, e, em consequência, a sociedade é um caos de superstição, paixão, preconceito, pobreza em muitos e ignorância de seu real interesse em todos; enquanto o novo sistema familiariza o homem com seus verdadeiros interesses e, consequentemente, lhe dá o conhecimento e o poder para combinar e governar as circunstâncias de maneira a assegurá-los e, infalivelmente, produzir felicidade para si mesmo e para os outros.
E este é o ponto prático ao qual eu desejava chegar para extrair benefício deste discurso. Em meu discurso anterior, afirmei que, para produzir a maior felicidade para o maior número de pessoas, três coisas eram necessárias:
1º. Um treinamento e educação adequados, desde o nascimento, das capacidades físicas e mentais de cada criança.
2º. Arranjos para permitir que cada indivíduo obtenha, da melhor maneira, em todos os momentos, um suprimento completo das coisas que são necessárias e mais benéficas para a natureza humana; e
3º. Que todos os indivíduos devem ser combinados em um sistema social, de modo a proporcionar a cada um os maiores benefícios da sociedade.
Ora, arranjos práticos para produzir esses resultados nunca foram formulados, nem qualquer coisa que se aproxime deles. Eles não podem ser encontrados em nenhuma habitação individual e isolada, em nenhuma vila, cidade ou município, em nenhuma parte do mundo. Portanto, estou justificado em dizer que, assim como máquinas antigas, quando uma nova, com poderes muito superiores, é inventada para substituí-las, moradias, vilarejos, municípios e cidades separadas devem dar lugar a outras combinações.
Ora, se as circunstâncias exercem uma influência avassaladora e irresistível sobre toda a raça humana, a ponto de tornar cada indivíduo feliz ou infeliz, não é de suma importância para todos nós nos tornarmos versados naquela ciência, cujo conhecimento preciso permitirá à geração atual remover a miséria da geração seguinte e assegurar a felicidade para sua posteridade?
Que outro assunto pode ser comparado a este? Ou melhor, quando comparados a ele, todos os outros assuntos não perdem seu valor ou se tornam extremamente insignificantes?
Se eu estiver certo, a primeira e mais importante investigação para os seres humanos deveria ser averiguar quais circunstâncias produzem o mal e quais o bem, e como as circunstâncias podem ser arranjadas para produzir o último e excluir o primeiro. Aprender sobre esses assuntos do mais profundo interesse para meus semelhantes tem sido o estudo e a prática da minha vida; e como resultado desse estudo e prática, submeto à sua mais séria consideração a nova combinação de circunstâncias que agora está diante de vocês. Elas foram reunidas às pressas pelo Sr. Hutton, desta cidade, desde nosso último encontro, e não se pode esperar que forneçam mais do que um esboço muito imperfeito do esboço do plano, como ele se manifestará na prática.
Estou agora preparado para dizer, com uma confiança que não teme refutação, e que nada, exceto o pleno domínio de todo o assunto, poderia imprimir em minha mente, que todas as circunstâncias externas, humanas ou artificiais, existentes devem rapidamente dar lugar a estas. E, como os interesses essenciais de cada um, qualquer que seja sua posição, posição ou condição atual no mundo, serão promovidos em uma extensão incalculável pela mudança, confio que todos os presentes, e toda a população americana, começarão agora a estudar o assunto e, quando o dominarem, ajudarão uns aos outros com todo o seu poder para remover, rapidamente, as atuais circunstâncias miseráveis e irracionais, e substituí-las por outras que, necessariamente, os tornarão inteligentes e felizes.
(…)
Questões para reflexão
- A busca de melhores condições de trabalho parece ser quase uma busca universal (muito poucos divergiriam disso). A construção de uma comunidade socialista parece ser a melhor de forma de obter tal resultado?
- A mente das pessoas é uma tábua rasa em que podemos livremente escrever o que nelas quisermos?
- Uma sociedade ideal é a que mudamos a mente das pessoas para que possam viver de acordo com um plano preconcebido ou aquela que se ajusta ao que as pessoas são e aspiram ser?
- Uma empresa socialista consegue competir com empresas capitalistas (para uma primeira análise, desconsidere cooperativas em sua resposta, pois elas não são empresas inerentemente socialistas)? Por quê? Quem fornecerá produtos melhores a custos mais baixos? Quem tem maior probabilidade de melhorar de forma sustentável as condições de vida de seus trabalhadores? A longo prazo, quais empresas serão mais ricas e gerarão mais valor para a sociedade?
- É razoável supor que o conjunto de crenças sobre a natureza humana que organizou toda a sociedade ocidental esteja errado? Não há lições que valham a pena aprender?
- Recompensas e punições são importantes na organização social ou a educação pode resolver todos os problemas de comportamento humano?
- O fracasso das comunidades owenitas deu-se em um ambiente de livre mercado resultando em prejuízo apenas para os investidores. Qual seria o tamanho do prejuízo decorrente do fracasso na implantação de um novo modo de produção em um país inteiro?
- A humanidade é pacífica e ordeira, abelhas que seguem o comando de sua rainha, ou é simplesmente caótica?
- Quantos fracassos são necessários para se compreender que uma ideia é uma má ideia?
- Que lições podemos aprender com os fracassos de Owen?

Leave a comment