
Contexto Histórico
Nascido em 1818 em Trier, Prússia, Karl Marx, juntamente com Friedrich Engels, desenvolveu um corpo ideológico conhecido como marxismo. Isso inclui suas críticas econômicas em O Capital (1867-1894) e o chamado revolucionário no Manifesto Comunista (1848). O socialismo “científico” de Marx tem suas raízes no materialismo histórico, um método que analisa o desenvolvimento social por meio das condições econômicas, distinguindo-o do “socialismo utópico idealista” de pensadores como Saint-Simon ou Fourier. Essa abordagem buscava afastar o socialismo de conceitos tradicionais como justiça ou de bem comum (considerados sem concretude material, apenas parte da ideologia da classe dominante), com a pretensão de se basear apenas em fenômenos materiais, leis econômicas observáveis, e, com isso, se vender como algo científico.
| Os socialistas são contra a exploração dos trabalhadores pelos capitalistas, mas eles acham que podem explorar livremente quem eles bem quiserem Paul Bede Johnson (1928-2023) foi um jornalista, historiador, redator de discursos e autor britânico. Em seu livro “Intelectuais: De Marx e Tolstói a Sartre e Chomsky”, ele escreveu: (…) Em todas as suas pesquisas sobre as iniquidades do capitalismo britânico, ele se deparou com muitos casos de trabalhadores mal pagos, mas nunca conseguiu encontrar um que literalmente não recebesse salário algum. No entanto, tal trabalhadora existiu, em sua própria casa… Esta era Helen Demuth [a empregada doméstica de longa data]. Ela recebia seu sustento, mas não recebia nada… Ela trabalhava arduamente, não apenas limpando e esfregando, mas também administrando o orçamento familiar… Marx nunca lhe pagou um centavo… Em 1849-50… [Helen] tornou-se amante de Marx e concebeu um filho… Marx recusou-se a reconhecer sua responsabilidade, então e em qualquer ocasião posterior, e negou categoricamente os rumores de que ele era o pai… [O filho] foi colocado para ser criado por uma família da classe trabalhadora chamada Lewis, mas teve permissão para visitar a casa de Marx [para ver sua mãe]. Ele foi, no entanto, proibido de usar a porta da frente e obrigado a ver sua mãe apenas na cozinha. Marx estava apavorado que a paternidade [do menino] fosse descoberta e que isso lhe causasse um dano fatal como líder revolucionário e vidente… [Marx] convenceu Engels a reconhecer [o menino] em particular, como uma história de fachada para consumo familiar. Mas Engels… não estava disposto a levar o segredo para o túmulo. Engels morreu de câncer na garganta em 5 de agosto de 1895; incapaz de falar, mas não querendo que Eleanor [uma das filhas de Marx] continuasse a pensar que seu pai era imaculado, ele escreveu em uma lousa: ‘Freddy [nome do menino] é filho de Marx … |
Características Econômicas
A análise do sistema de livre mercado por Marx (que ele chama de capitalism) é profundamente economicista, concentrando-se na estrutura econômica como o verdadeiro fundamento da sociedade. Ele postulou que o modo de produção, compreendendo as forças materiais de produção (tecnologia, trabalho) e as relações de produção (relações de classe), determina a superestrutura social, política e intelectual. Por exemplo, no capitalismo, a burguesia possui os meios de produção (e, com isso, determina a cultura, a moral e a ideologia), enquanto o proletariado vende sua força de trabalho, levando à exploração por meio da mais-valia — a diferença entre o valor produzido pelos trabalhadores e seus salários.
Figura 19. Karl Marx.

Fonte. https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Karl_Marx_001_restored.jpg
A base para sua teoria economicista é sua teoria do valor-trabalho. Marx argumentou que o valor de uma mercadoria está enraizado no trabalho necessário para produzi-la, especificamente no “tempo de trabalho socialmente necessário” (o tempo médio necessário em condições normais de produção). Segundo ele, esta é uma medida objetiva, que vincula o valor ao trabalho, como visto em O Capital, Volume 1: “O valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de tempo de trabalho socialmente necessário“.
| Teoria subjetiva do valor A revolucionária teoria subjetiva do valor de Carl Menger (1840-1921) desafiou fundamentalmente a economia clássica ao argumentar que o valor se origina das preferências individuais e não dos insumos de trabalho. Sua obra de 1871, “Princípios de Economia”, afirma: “Quando discuti a natureza do valor, observei que o valor não é inerente aos bens e que não é uma propriedade dos bens. Mas o valor também não é algo independente. Não há razão para que um bem não tenha valor para um indivíduo que economiza, mas nenhum valor para outro indivíduo em circunstâncias diferentes. A medida do valor é inteiramente subjetiva por natureza e, por essa razão, um bem pode ter grande valor para um indivíduo que economiza, pouco valor para outro e nenhum valor para um terceiro, dependendo das diferenças em suas necessidades e quantidades disponíveis. O que uma pessoa despreza ou valoriza levianamente é apreciado por outra, e o que uma pessoa abandona é frequentemente absorvido por outra.” |
Dimensões Mecanicista e Fatalista
O materialismo histórico de Marx sugere uma visão mecanicista do desenvolvimento social, em que mudanças na base econômica inevitavelmente levam a mudanças na superestrutura. Ele acreditava que a história progride por estágios — comunismo primitivo, escravidão, feudalismo, capitalismo, socialismo e comunismo — impulsionados pelo desenvolvimento das forças produtivas e pelas contradições internas de cada modo. Esse processo determinista é mecanicista, pois implica que a mudança social segue leis econômicas previsíveis, semelhantes a uma máquina. Por exemplo, as contradições internas do capitalismo, como a superprodução e o conflito de classes, são vistas como mecanicamente conducentes ao seu colapso.
Essa visão também carrega um elemento fatalista, pois Marx argumentou que a transição para o socialismo é inevitável. No Manifesto Comunista, ele e Engels afirmam que “a queda da burguesia e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis”, refletindo a crença de que processos históricos, independentes da vontade humana, levarão ao socialismo. Esse fatalismo é ainda mais apoiado por sua Contribuição à Crítica da Economia Política de 1859, onde ele sugere que as relações de produção são indispensáveis e levam ao desenvolvimento histórico inevitável.
| Sobre a Visão Materialista Econômica Mecanicista de Marx Max Weber (1864-1920), figura fundamental da sociologia, engajou-se criticamente com as visões economicistas de Karl Marx, particularmente com sua concepção materialista da história e do determinismo econômico. Embora Weber reconhecesse a importância dos fatores econômicos, argumentava que o foco de Marx na luta de classes e nas condições materiais como os principais motores da mudança social era excessivamente reducionista. As críticas de Weber às teorias econômicas de Marx, particularmente conforme articuladas em “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” (1905) e “Economia e Sociedade” (1922), centram-se em vários pontos-chave: 1. Ênfase exagerada no Determinismo Econômico: O materialismo histórico de Marx postula que as condições econômicas (o modo de produção) determinam a superestrutura social, política e cultural. Weber argumentava que isso era simplista demais, visto que fatores não econômicos como ideias, religião e cultura também moldam a história. 2. Papel da Religião e da Cultura: Weber argumentou que Marx subestimou o papel dos valores religiosos e culturais no desenvolvimento econômico. Em A Ética Protestante, ele propôs que a ética do trabalho protestante, particularmente o Calvinismo, fomentou o “espírito do capitalismo” ao incentivar o trabalho árduo e o comportamento econômico racional, independente de forças puramente econômicas. 3. Negligência da Burocracia e da Racionalização: Marx se concentrou no conflito de classes e na dinâmica trabalho-capital, mas Weber enfatizou a ascensão da burocracia e da racionalização como características-chave do capitalismo moderno. Ele argumentou que a análise de Marx ignorava a crescente importância das organizações formais e da autoridade legal-racional. 4. Visão Limitada de Classe e Poder: Marx definia classe principalmente em termos econômicos, com base na propriedade dos meios de produção. Weber modificou uma visão multidimensional de poder, incorporando status (prestígio social) e partido (influência política) ao lado da classe, argumentando que a estratificação social não é apenas econômica. 5. Tipos Ideais vs. Materialismo Histórico: Weber desenvolveu o conceito de “tipos ideais” para analisar perspectivas sociais, rejeitando a visão determinista de Marx de que a história segue um caminho previsível, impulsionado por estratégias econômicas. Weber via uma história como mais contingente, moldada por uma complexa interação de fatores. |
Imperativo Revolucionário
Uma característica definidora do socialismo científico de Marx é seu caráter revolucionário. Marx rejeitou abordagens reformistas, defendendo uma revolução proletária para derrubar o capitalismo. Ele acreditava que a classe trabalhadora, explorada sob o capitalismo, se levantaria para “expropriar os expropriadores”, tomando o controle dos meios de produção para estabelecer uma sociedade sem classes. Essa postura revolucionária é articulada no Manifesto Comunista, onde ele clama pela abolição da propriedade privada e pelo estabelecimento da propriedade coletiva. Essa abordagem revolucionária contrasta com o socialismo gradualista e reforça a crença de Marx de que a mudança sistêmica requer uma ruptura fundamental.
| O que é uma revolução ? Os socialistas gostam de afirmar que Karl Marx era um humanista. Uma citação atribuída a Mao Zedong (1893-1976) explica o que ser um humanista significa para a esquerda radical: “Uma revolução não é um jantar, nem escrever um ensaio, nem pintar um quadro, nem bordar; não pode ser tão refinada, tão tranquila e gentil, tão temperada, bondosa, cortês, contida e magnânima. Uma revolução é uma insurreição, um ato de violência pelo qual uma classe derruba outra”. |
Abordagem Não Planejada do Socialismo
O socialismo de Marx é frequentemente descrito como não planejado, visto que ele se absteve deliberadamente de fornecer projetos detalhados para a futura sociedade comunista. Ele declarou, em um famosa declaração, que não escreveria “receitas” para os “restaurantes” do futuro, indicando seu foco na crítica ao capitalismo em vez de na concepção do socialismo. Essa abordagem decorre de sua crença de que soluções satisfatórias para os problemas sociais emergiriam automaticamente do processo histórico, impulsionadas pelas condições materiais e pelas lutas de classes da época. Marx disse muito pouco sobre como o socialismo seria implementado após a revolução.
| Comunismo: a nova religião fundada por Marx e seus apóstolos John Maynard Keynes (1883-1946) foi um economista inglês. Apesar de ser um esquerdista (mas não um radical), em 1925, escreveu sobre o leninismo, a primeira implementação das ideias de Karl Marx: (i) O que é a fé comunista? O leninismo é uma combinação de duas coisas que os europeus guardaram por alguns séculos em diferentes compartimentos da alma — religião e negócios. Ficamos chocados porque a religião é nova, e desdenhosos porque os negócios, estando subordinados à religião e não o contrário, são altamente ineficientes. Como outras novas religiões, o leninismo deriva seu poder não da multidão, mas de uma pequena minoria de convertidos entusiasmados, cujo zelo e intolerância igualam cada um em força a cem indiferentes. (…) Pois ele acredita em duas coisas: a introdução de uma Nova Ordem na Terra e o método da Revolução como o único meio para isso. A Nova Ordem não deve ser julgada nem pelos horrores da Revolução nem pelas privações do período de transição. A Revolução deve ser um exemplo supremo dos meios justificados pelo fim. O soldado da Revolução deve crucificar sua própria natureza humana, tornando-se inescrupuloso e implacável, e sofrendo uma vida sem segurança ou alegria — mas como um meio para atingir seu propósito e não seu fim. (O texto completo pode ser lido em https://www.economicsnetwork.ac.uk/archive/keynes_persuasion/A_Short_View_of_Russia.htm) |
Ideias Principais do Manifesto Comunista
O Manifesto Comunista é um panfleto conciso que descreve os princípios do comunismo. Escrito para a Liga dos Comunistas, ele explica os principais conceitos por trás do comunismo e propõe uma agenda para o partido implementar quando chegar ao poder. Inclui:
- Materialismo Histórico e Luta de Classes:
- Marx abre com a famosa frase: “Um espectro assombra a Europa — o espectro do comunismo“, declarando que “a história de todas as sociedades até agora existentes é a história das lutas de classes“. As sociedades são definidas pela relação com os meios de produção, com novas classes dominantes emergindo em cada estágio (por exemplo, comunismo primitivo, antiguidade, feudalismo, capitalismo).
- O capitalismo é marcado pela exploração do proletariado pela burguesia, que detém os meios de produção e revoluciona constantemente a produção e as relações sociais, criando um “mundo à sua imagem”.
- Crítica ao capitalismo:
- O capitalismo garante que os humanos sejam atrofiados e alienados, polarizando e unificando o proletariado, levando à sua própria destruição por meio da revolução. É um sistema global que expande os mercados, mas cria condições para o seu colapso devido a contradições internas.
- Mudança revolucionária e surgimento do comunismo:
- Marx prevê que uma revolução proletária derrubará o capitalismo, levando ao comunismo, uma sociedade sem classes onde “o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos”. Isso envolve políticas de transição, como:
- Abolição da propriedade da terra e aplicação de todas as rendas da terra para fins públicos.
- Um pesado imposto de renda progressivo ou gradual.
- Abolição de todos os direitos de herança.
- Confisco da propriedade de todos os emigrantes e rebeldes.
- Centralização do crédito nas mãos do Estado, por meio de um banco nacional com capital estatal e monopólio exclusivo.
- Centralização dos meios de comunicação e transporte nas mãos do Estado.
- Marx prevê que uma revolução proletária derrubará o capitalismo, levando ao comunismo, uma sociedade sem classes onde “o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos”. Isso envolve políticas de transição, como:
- Papel dos Comunistas e Internacionalismo:
- Os comunistas expressam a vontade geral do proletariado, defendendo seus interesses comuns globalmente, independentemente de nacionalidades, e não se opondo a outros partidos da classe trabalhadora. O Manifesto termina com o slogan “Trabalhadores do mundo, uni-vos! Vocês não têm nada a perder além de suas correntes”, enfatizando o caráter internacional das ideias marxistas.
- Crítica de Outros Socialismos:
- Marx distingue o comunismo do Socialismo Reacionário (Socialismo Feudal e Pequeno-Burguês), do Socialismo Conservador ou Burguês e do Socialismo Crítico-Utópico, descartando-os como reformistas e ignorando o papel revolucionário do proletariado.
Principais Ideias de ‘O Capital’
O Capital, publicado em três volumes, é uma crítica detalhada da economia política, analisando as estruturas econômicas do sistema de livre mercado (que ele chama de capitalismo). No entanto, apenas o primeiro volume foi publicado durante a vida de Marx. Supostamente científico, suas principais ideias incluem:
- Materialismo Histórico e Capitalismo:
- Marx examina o capitalismo como uma época histórica, traçando suas origens, desenvolvimento e declínio inevitável devido a contradições internas.
- Teoria do Valor-Trabalho e Mais-Valia:
- Central à teoria de Marx é a teoria do valor-trabalho, na qual o valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo de trabalho socialmente necessário para sua produção. Os capitalistas extraem mais-valia — a diferença entre o valor produzido pelos trabalhadores e seus salários —, levando à exploração.
- Fetichismo e Alienação da Mercadoria:
- Marx descreve o fetichismo da mercadoria, em que os mercados capitalistas obscurecem as relações sociais, fazendo-as parecer relações entre coisas. Isso está ligado à alienação, em que os trabalhadores são alienados de seu trabalho, produtos e humanidade, um conceito fundamental para sua crítica.
- Tendência da Taxa de Lucro à Queda e Teoria da Crise:
- Marx argumenta que o capitalismo é instável devido à tendência da taxa de lucro à queda, levando a crises econômicas cíclicas, incluindo superprodução, subconsumo e instabilidade financeira. Essas crises são inerentes, não acidentais, e contribuem para o eventual colapso do capitalismo.
- Exploração e Análise de Classe:
- A exploração do proletariado é fundamental para a teoria do conflito, a análise de classe e o estudo da estratificação social e da mudança histórica. Ela destaca a relação antagônica entre capitalistas e trabalhadores, impulsionando a luta de classes.
- Estrutura da obra:
- Volume I (1867): Concentra-se no processo de produção e na exploração do trabalho, detalhando como a mais-valia é gerada.
- Volume II (1885): Examina a circulação do capital e as causas das crises econômicas, como a superprodução e o subconsumo.
- Volume III (1894): Explora a distribuição da mais-valia entre os atores econômicos, como industriais, proprietários de terras e financistas, e a equalização das taxas de lucro.
- Crítica Científica e Influências:
- O Capital é apresentado como uma obra científica, sintetizando a economia política clássica (por exemplo, Adam Smith, David Ricardo), a filosofia crítica alemã (por exemplo, Hegel) e o socialismo utópico (por exemplo, Fourier, Proudhon). Critica economistas burgueses que defendem a eficiência e a estabilidade do capitalismo, mostrando, em vez disso, sua natureza exploradora e propensa a crises.
- Conceitos Adicionais:
- Marx introduz conceitos como ideologia, hegemonia, reificação e crítica do poder, impactando campos como sociologia, ciência política, filosofia e estudos culturais.
| Mises sobre O Capital Ludwig Heinrich Edler von Mises (1881-1973) foi um economista austro-americano. Em seu livro Ação Humana, ele escreveu: “Quando Jevons e Menger inauguraram uma nova era no pensamento econômico, sua carreira como autor de escritos econômicos já havia chegado ao fim; o primeiro volume de O Capital já havia sido publicado vários anos antes. A única reação de Marx à teoria marginal do valor foi adiar a publicação dos volumes posteriores de seu principal tratado. Eles foram disponibilizados ao público somente após sua morte. Ao desenvolver a ideologia-doutrina, Marx visa exclusivamente à economia e à filosofia social do utilitarismo. Sua única intenção era destruir a reputação dos ensinamentos econômicos, que ele não conseguia refutar por meio da lógica e do raciocínio. Ele deu à sua doutrina a forma de uma lei universal válida para toda a era histórica das classes sociais, pois uma afirmação aplicável apenas a um evento histórico individual não poderia ser considerada uma lei.” Pelas mesmas razões, ele não restringiu sua validade apenas ao pensamento econômico, mas incluiu todos os ramos do conhecimento. (…) O primeiro erro nessa interpretação é que ela considera a “burguesia” como uma classe homogênea composta por membros cujos interesses são idênticos. Um empresário está sempre sob a necessidade de ajustar a condução de seus negócios às condições institucionais de seu país. (…) (…) Os marxistas endossaram essa afirmação ao rotular a religião de “ópio para as massas”. Nunca ocorreu aos defensores de tais ensinamentos que, onde há interesses egoístas a favor, deve necessariamente haver interesses egoístas contra também. Não é de forma alguma uma explicação satisfatória para qualquer evento que ela tenha favorecido uma classe específica. A questão a ser respondida é por que o restante da população, cujos interesses ela prejudicou, não conseguiu frustrar os esforços daqueles que ela favoreceu. (…) Os ricos, os proprietários das fábricas já em operação, não têm nenhum interesse de classe específico na manutenção da livre concorrência. Eles se opõem ao confisco e à expropriação de suas fortunas, mas seus interesses pessoais são, antes, a favor de medidas que impeçam os recém-chegados de desafiar sua posição. (…) A essência da filosofia marxista é esta: Estamos certos porque estamos os porta-vozes da classe proletária em ascensão. O raciocínio discursivo não pode invalidar nossos ensinamentos, pois eles são inspirados pelo supremo deus que determina o destino da humanidade. Nossos adversários estão errados porque lhes falta a intuição que guia nossas mentes. É claro que não é culpa deles que, por conta de sua filiação de classe, não estejam equipados com a genuína lógica proletária e estejam cegos por ideologias. Os decretos insondáveis da história que nos elegeram os condenaram. O futuro é nosso.” |
Análises e Previsões Fracassadas de Marx
As previsões e afirmações teóricas mais significativas de Marx foram contrariadas pela experiência histórica e pela pesquisa empírica. A teoria do valor-trabalho foi abandonada pela economia dominante em favor de teorias mais sofisticadas que levam em conta preferências subjetivas e relações de produção complexas. As previsões revolucionárias não se materializaram nos locais e formas esperados, enquanto o desenvolvimento econômico, em geral, melhorou, em vez de piorar, os padrões de vida dos trabalhadores nos países desenvolvidos.
As inconsistências internas identificadas pelos críticos, combinadas com a natureza infalsificável do método dialético de Marx, sugerem que o marxismo funciona mais como uma estrutura ideológica do que como uma teoria científica capaz de gerar previsões precisas sobre o desenvolvimento social. Embora a análise de Marx sobre a tendência do capitalismo à desigualdade e à crise contenha insights valiosos, suas soluções e previsões sobre a transformação revolucionária se mostraram irrealistas, dada a complexidade dos sistemas sociais e econômicos modernos.
A ciência social contemporânea desenvolveu abordagens mais sutis para a compreensão da desigualdade, do conflito social e do desenvolvimento econômico que incorporam insights de Marx, evitando suas suposições deterministas e previsões fracassadas. A persistência dos sistemas capitalistas, sua adaptação para resolver alguns dos problemas identificados por Marx e o desenvolvimento de instituições democráticas para gerenciar conflitos sociais sugerem que a mudança social ocorre por meio de processos mais complexos e graduais do que a estrutura revolucionária de Marx previu.
| Previsão de Böhm von Bawerk sobre o socialismo Eugen Böhm Ritter von Bawerk (1851-1914) foi um economista austríaco. Seguidor da teoria subjetiva do valor, ele conclui sobre a obra de Marx: ‘Qual será o julgamento final do mundo? Disso não tenho a menor dúvida. O sistema marxista tem um passado e um presente, mas nenhum futuro duradouro. De todos os tipos de sistemas científicos, aqueles que, como o marxista, se baseiam em uma dialética oca, certamente estão condenados. Uma dialética inteligente pode causar uma impressão temporária na mente humana, mas não duradoura. A longo prazo, os fatos e a ligação segura de causas e efeitos prevalecem. No domínio das ciências naturais, uma obra como a de Marx seria impossível mesmo agora. Nas ciências sociais muito jovens, conseguiu alcançar influência, grande influência, e provavelmente só a perderá muito lentamente, e isso porque tem seu apoio mais poderoso não no intelecto convicto de seus discípulos, mas em seus corações, seus desejos e suas vontades. Também pode subsistir por muito tempo com o grande capital de autoridade que conquistou sobre muitas pessoas. Nas observações introdutórias a este artigo, eu disse que Marx teve muita sorte como autor, e me parece que uma circunstância que contribuiu bastante para essa boa sorte é o fato de a conclusão de seu sistema ter aparecido dez anos após sua morte e quase trinta anos após o lançamento de seu primeiro volume. Se os ensinamentos e as definições do terceiro volume tivessem sido apresentados ao mundo simultaneamente com o primeiro volume, haveria poucos leitores sem base, creio eu, que não teriam considerado a lógica do primeiro volume um tanto duvidosa. Ora, a crença numa autoridade enraizada há trinta anos constitui um baluarte contra as incursões do conhecimento crítico — um baluarte que, seguramente, mas lentamente, será rompido. (…)’ |
Conexão com o Diagrama de Mentalidades Políticas
Karl Marx é classificado como Socialista no Diagrama Circular de Mentalidades Políticas Ocidentais, posicionado no núcleo do segmento Socialista (esquerdismo radical). Sua visão revolucionária de uma sociedade comunista e sem classes, enraizada na luta de classes e na abolição da propriedade privada, alinha-se aos princípios socialistas de igualdade coletiva e reforma sistêmica. Ao contrário de Fourier, Saint-Simon e Owen, cujo socialismo utópico inclui elementos reformistas ou individualistas, o socialismo científico de Marx é intransigentemente revolucionário, distanciando-o da fronteira entre Socialistas e Social-Democratas. Essa colocação reflete sua abordagem radical e sistemática, conforme analisada no contexto do diagrama circular.
Citações principais
Luta de Classes
- “A história de todas as sociedades até hoje existentes é a história das lutas de classes.”
Fonte: O Manifesto Comunista (1848), em coautoria com Friedrich Engels. - “Que as classes dominantes tremam diante de uma revolução comunista. Os proletários não têm nada a perder além de suas correntes. Eles têm um mundo a ganhar.”
Fonte: O Manifesto Comunista (1848), em coautoria com Friedrich Engels.
Materialismo e Ideologia - “O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e intelectual em geral. Não é a consciência dos homens que determina seu ser, mas, ao contrário, seu ser social que determina sua consciência.”
Fonte: Uma Contribuição à Crítica da Economia Política (1859). - “As ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, ou seja, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força intelectual dominante.”
Fonte: A Ideologia Alemã (1845), em coautoria com Friedrich Engels. - “A produção de ideias, de concepções, de consciência, está, a princípio, diretamente entrelaçada com a atividade material e a interação material dos homens, a linguagem da vida real.”
Fonte: A Ideologia Alemã (1845), em coautoria com Friedrich Engels.
Alienação e Trabalho
- “O fato de o trabalho ser externo ao trabalhador, isto é, não pertencer à sua natureza intrínseca; que em seu trabalho, portanto, ele não se afirma, mas se nega, não se sente satisfeito, mas infeliz, não desenvolve livremente sua energia física e mental, mas mortifica seu corpo e sua mente.”
Fonte: Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844 (1844). - “Quanto menos você é, quanto menos você expressa sua própria vida, mais você tem, isto é, quanto maior é sua vida alienada, maior é o estoque de seu ser alienado.”
Fonte: Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844 (1844).
Capitalismo e Exploração
- “O capital é trabalho morto, que, como um vampiro, só vive sugando trabalho vivo, e vive tanto mais quanto mais trabalho suga.”
Fonte: O Capital, Volume I (1867). - “A existência do trabalhador é, portanto, colocada sob a mesma condição que a existência de qualquer outra mercadoria. O trabalhador tornou-se uma mercadoria, e é um pouco de sorte para ele encontrar um comprador. E a demanda da qual depende a vida do trabalhador depende do capricho dos ricos e dos capitalistas.”
Fonte: Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844 (1844). - “O moinho manual proporciona a você a sociedade com o senhor feudal; o moinho a vapor, a sociedade com o capitalista industrial.”
Fonte: A Miséria da Filosofia (1847).
Comunismo e Revolução
- “No lugar da velha sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classe, teremos uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada um é a condição para o livre desenvolvimento de todos.”
Fonte: O Manifesto Comunista (1848), em coautoria com Friedrich Engels. - “Os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias maneiras; a questão é transformá-lo.”
Fonte: Teses sobre Feuerbach (1845). - “O comunismo… é a verdadeira resolução do antagonismo entre homem e natureza e entre homem e homem; é a verdadeira resolução do conflito entre existência e essência, objetificação e autoafirmação, liberdade e necessidade, indivíduo e espécie.”
Fonte: Manuscritos Econômicos e Filosóficos de 1844 (1844). - “Numa fase superior da sociedade comunista, após o desaparecimento da subordinação escravizadora do indivíduo à divisão do trabalho e, com ela, também da antítese entre trabalho intelectual e físico; após o trabalho se tornar não apenas um meio de vida, mas a necessidade primordial da vida; após as forças produtivas também terem aumentado com o desenvolvimento integral do indivíduo, e todas as fontes de riqueza cooperativa fluírem com mais abundância — somente então o estreito horizonte do direito burguês poderá ser transposto em sua totalidade e a sociedade poderá inscrever em suas bandeiras: De cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo suas necessidades!”
Fonte: Crítica do Programa de Gotha (1875).
Religião
- “O sofrimento religioso é, ao mesmo tempo, a expressão do sofrimento real e um protesto contra o sofrimento real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições sem alma. É o ópio do povo.”
Fonte: Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (1843).
| A Doutrina Social da Igreja Católica Apostólica Romana Em sua encíclica “Rerum Novarum” (1891), documento fundamental da Doutrina Social da Igreja, que aborda as condições da classe trabalhadora e a relação entre capital e trabalho durante a Revolução Industrial, o Papa Leão XIII declarou: “4. (…) Assim, esta conversão da propriedade particular em propriedade colectiva, tão preconizada pelo socialismo, não teria outro efeito senão tornar a situação dos operários mais precária, retirando-lhes a livre disposição do seu salário e roubando-lhes, por isso mesmo, toda a esperança e toda a possibilidade de engrandecerem o seu patrimônio e melhorarem a sua situação. 5. (…) Primeiramente, no homem reside, em sua perfeição, toda a virtude da natureza sensitiva, e desde logo lhe pertence, não menos que a esta, gozar dos objectos físicos e corpóreos. Mas a vida sensitiva mesmo que possuída em toda a sua plenitude, não só não abraça toda a natureza humana, mas é-lhe muito inferior e própria para lhe obedecer e ser-lhe sujeita. O que em nós se avantaja, o que nos faz homens, nos distingue essencialmente do animal, é a razão ou a inteligência, e em virtude desta prerrogativa deve reconhecer-se ao homem não só a faculdade geral de usar das coisas exteriores, mas ainda o direito estável e perpétuo de as possuir, tanto as que se consomem pelo uso, como as que permanecem depois de nos terem servido.“ (https://www.vatican.va/content/leo-xiii/pt/encyclicals/documents/hf_l-xiii_enc_15051891_rerum-novarum.html) |
Considerações finais
O socialismo “científico” de Karl Marx, embora essencialmente equivocado em todos os seus aspectos econômicos, permanece vivo no pensamento político influenciando movimentos radicais de esquerda em todo o mundo, graças a conceitos que engendrou, como mais valia, fetichismo, alienação e exploração. Tais conceitos são a base que permite à liderança da esquerda radical controlar culturalmente sua base, tornando desnecessária qualquer reflexão sobre a realidade, bastando enquadrá-la em explicações simplificadas (quase sempre substancialmente erradas), mas que dão a impressão de que seus quadros possuem propostas úteis (quase sempre inconsequentes, mas que sinalizam alguma forma de virtude moral mesmo quando evidentemente causam danos a quem os socialistas dizem que desejam ajudar) ou que eles possuem algo relevante a dizer.
| Estava Marx tão comprometido com suas teorias que se recusou a enxergar os fatos? Marx teve acesso a evidências que não se alinhavam perfeitamente com algumas de suas previsões, mas manteve sua estrutura teórica. Ele estava ciente de desenvolvimentos que pareciam contradizer certos aspectos de sua teoria, tais como: – O crescimento da classe média em países industrializados como Inglaterra e Estados Unidos, em vez de seu desaparecimento, como sua teoria da polarização de classes poderia sugerir. – A melhoria das condições de alguns segmentos da classe trabalhadora, contrariando sua previsão de crescente empobrecimento. – A persistência e adaptabilidade do capitalismo, apesar das crises que identificou. No entanto, Marx interpretou essas contradições dentro de sua estrutura dialética, frequentemente as vendo como fenômenos temporários ou como manifestações das contradições internas do capitalismo que eventualmente levariam ao seu colapso. Marx trabalhava principalmente dentro de uma tradição teórica que enfatizava processos históricos de longo prazo e análise sistêmica. Ele estava menos preocupado com discrepâncias empíricas de curto prazo, que ele poderia ter visto como meros desvios temporários da trajetória histórica subjacente que havia identificado. Vale notar também que Marx revisou continuamente sua obra e deixou grande parte dela incompleta, sugerindo que ele estava às voltas com essas contradições. O fato de ele ter publicado apenas o primeiro volume de “O Capital” em vida, apesar de ter trabalhado no projeto por décadas, indica que ele pode ter tido dificuldades para conciliar certos aspectos de sua teoria com a realidade empírica. |
Questões para reflexão
- A vida e a conduta de Marx sugerem uma característica típica da mentalidade socialista: o que exigem dos outros não se aplica a eles (hipocrisia). Como as contradições pessoais na vida de esquerdistas radicais como Marx afetam a sua percepção e credibilidade nas teorias, propostas e ações deles?
- Considere a luta religiosa entre o Islã e a civilização ocidental (uma civilização judaico-cristã), que dura cerca de 14 séculos. A história de todas as sociedades existentes é uma história de luta de classes?
- Quanto trabalho está cristalizado em um copo de vidro?
- Objetivamente, qual o valor de uma televisão? Quanto ela vale para você?
- Considere a qualidade de vida antes e agora sob o capitalismo. Os capitalistas se apropriaram de todo o excedente?
- Uma redução histórica da taxa de lucro, sugerindo seu colapso, é observável sob o capitalismo?
- Quantas pessoas você acha que um comunista estaria disposto a matar para implementar um sistema que ninguém sabe o que será (na verdade, nós sabemos), mas que foi prometido como o paraíso na Terra? Considerando sua resposta, o que mais você acha que ele estaria disposto a fazer?
- Fetichismo é um fenômeno material ?

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