I. Esquerdistas moderados (democráticos)

O diagrama circular das mentalidades políticas ocidentais posiciona o “esquerdismo moderado” (também conhecido como “esquerdismo democrático”) como um dos seis principais grupos. Este grupo defende a redistribuição de propriedade e renda em nome da justiça social, maior igualdade econômica e governança democrática alcançada por meio de reformas graduais, em vez de revoluções. Em termos gerais, existem três grupos dentro dessa vertente ideológica: socialismo democrático, social-democracia e a terceira via.

As três ideologias — social-democracia, socialismo democrático e a Terceira Via — representam variações do pensamento esquerdista, todas enfatizando a justiça social, a igualdade econômica e a governança democrática. Elas surgiram de tradições socialistas, mas diferem em suas abordagens ao capitalismo, ao papel do Estado e ao ritmo das reformas. O Socialismo Democrático busca uma mudança fundamental em direção à propriedade coletiva por meios democráticos, a Social-democracia visa mitigar as desigualdades do capitalismo por meio de reformas de bem-estar social e a Terceira Via moderniza a social-democracia integrando políticas orientadas ao mercado para um mundo globalizado.

Socialismo Democrático: Abolição Democrática do Capitalismo

A filosofia do socialismo democrático defende uma transição do capitalismo para uma economia socialista — onde as principais indústrias e recursos são de propriedade pública — utilizando processos pacíficos e democráticos, como eleições e reformas, em vez de revoluções violentas. Esta corrente critica o capitalismo por ser inerentemente explorador e coloca em primeiro plano o controle dos trabalhadores, a assistência médica universal e a redistribuição de riqueza, visando alcançar uma verdadeira igualdade. No entanto, há uma rejeição contundente ao “marxismo-leninismo” dentro desta filosofia, pois argumenta-se que as economias de comando acabam pertencendo a uma pequena burocracia que trata os meios de produção como propriedade privada. O que distingue o socialismo democrático é sua ênfase na democracia no local de trabalho, garantindo que todos os funcionários tenham controle democrático ou pratiquem autogestão. Embora compartilhe com o esquerdismo radical o objetivo de reduzir a desigualdade, o socialismo democrático busca estabelecer uma economia socialista por meios democráticos, rejeitando abordagens autoritárias ou revolucionárias. Assim, há uma sobreposição com os esquerdistas radicais, mas com um foco claro em métodos democráticos.

Figuras proeminentes incluem Bernard “Bernie” Sanders (1941-) e Alexandria Ocasio-Cortez (1989-) nos EUA, com raízes históricas em pensadores como Karl Marx e exemplos modernos em partidos como o Trabalhista do Reino Unido, liderado por Jeremy Corbyn.

Hugo Rafael Chávez Frías (1954-2013) também articulou visões de socialismo democrático, embora, como esperado e sempre acontece com socialistas democráticos, a implementação de Chávez tenha se voltado para o autoritarismo na prática.

Citações Principais:

  • “O socialismo democrático consiste em dizer que é imoral e errado que um décimo do 1% mais rico deste país possua quase 90% — quase — possua quase tanta riqueza quanto os 90% mais pobres.” — Bernie Sanders.
  • “O capitalismo não pode ser superado através do próprio capitalismo; deve ser superado através do socialismo, do verdadeiro socialismo, com igualdade e justiça. Também estou convencido de que é possível fazê-lo sob a democracia, mas não no tipo de democracia imposta por Washington.” — Hugo Chávez.
Críticas ao Socialismo Democrático
O socialismo democrático é frequentemente equiparado ao socialismo mais amplo e criticado como um caminho para a ineficiência econômica, o controle governamental excessivo e a perda das liberdades individuais. As principais críticas incluem:
– Promove impostos elevados e a redistribuição de riqueza, que sufocam o crescimento econômico, a inovação e o incentivo pessoal, punindo o sucesso e recompensando a dependência.
– É visto como ideologicamente semelhante a regimes autoritários como a Venezuela ou a União Soviética, levando a economias falidas, escassez e erosão da democracia, apesar das alegações de serem “democráticas”.
– Políticas como saúde universal e educação gratuita são rotuladas de “socialismo puro”, opondo-se aos princípios capitalistas e fomentando uma cultura de direito em detrimento da autossuficiência.
– Prejudica a propriedade privada e a dinâmica de mercado, resultando potencialmente em ineficiência e redução da prosperidade.

Social-democracia: Capitalismo Regulamentado e Estado de Bem-Estar Social

A social-democracia enfatiza a construção de Estados de bem-estar social robustos dentro de uma estrutura capitalista, direitos trabalhistas, tributação progressiva e serviços públicos, sem abolir totalmente a propriedade privada, mantendo as instituições democráticas e as liberdades individuais. Ela aceita economias de mercado, mas as regula para reduzir a desigualdade e fornecer redes de segurança social, como visto em modelos nórdicos como o da Suécia e da Dinamarca.

Figuras-chave incluem Eduard Bernstein (1850-1932, que revisou o marxismo em direção ao reformismo) e líderes como Sven Olof Joachim Palme (1927-1986), da Suécia. É frequentemente associada às políticas europeias do pós-Segunda Guerra Mundial.

Exemplos modernos incluem partidos como o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD).

Citações Principais:

  • “A democracia política não pode perdurar a menos que em sua base esteja a social-democracia. O que significa social-democracia? Significa um modo de vida que reconhece a liberdade, a igualdade e a fraternidade como princípios da vida.” — B. R. Ambedkar.
  • “Socialismo e democracia não são idênticos, mas são simplesmente expressões diferentes do mesmo princípio; eles se complementam, e um nunca pode ser incompatível com o outro. Socialismo sem democracia é pseudossocialismo, assim como democracia sem socialismo é pseudodemocracia.” — Wilhelm Liebknecht.
Críticas à Social-Democracia
A social-democracia é criticada por expandir a intervenção governamental, gerar ônus econômicos e reduzir liberdades. As principais críticas incluem:
-Ela se baseia em altos impostos e amplos estados de bem-estar social, que criam dependência, desestimulam o trabalho e sobrecarregam cidadãos e empresas produtivas com custos insustentáveis.
– Regulamentações e redistribuição prejudicam o livre mercado, a inovação e o empreendedorismo, causando estagnação e tornando as economias menos competitivas globalmente.
– Ela é considerada antitética a governo limitado e capitalismo, com políticas como serviços universais vistas como “socialismo puro” que corroem a responsabilidade individual.
– Apesar das alegações de moderação, corre o risco de recair em um esquerdismo radical ou na ineficiência, já que o controle governamental sobre a economia entra em conflito com as hierarquias naturais e a eficiência do mercado.

Terceira Via: Pragmatismo Centro esquerdista

Surgindo na década de 1990 como uma resposta à globalização, a Terceira Via combina objetivos de bem-estar social-democratas com elementos neoliberais como desregulamentação, privatização e empreendedorismo. Ele rejeita tanto o socialismo puro quanto os mercados descontrolados, promovendo “oportunidades para todos” por meio de educação, treinamento profissional e parcerias público-privadas, ao mesmo tempo em que enfatiza a responsabilidade individual em detrimento de amplas doações estatais.

Figuras influentes incluem Anthony Giddens (1938 – teórico), Anthony Charles Lynton Blair (1953 – Novo Trabalhismo do Reino Unido) e William Jefferson “Bill” Clinton (1946 – “Novos Democratas” dos EUA).

No diagrama, ele faz a ponte entre a esquerda democrata e os liberais clássicos, como evidenciado por exemplos como as reformas sociais pró-mercado de Fernando Henrique Cardoso (1931-) no Brasil.

Citações principais:

  • “A Terceira Via trata da combinação de solidariedade social com uma economia dinâmica, e é isso que temos que fazer hoje.” — Tony Blair.
  • “A Terceira Via representa a renovação da social-democracia em um mundo onde as visões da velha esquerda se tornaram obsoletas; enquanto as da nova direita são inadequadas e contraditórias.” — Anthony Giddens, de A Terceira Via: A Renovação da Social-democracia.
Críticas à Terceira Via
A Terceira Via é criticada como um compromisso diluído e ambíguo que ainda incorpora muita intervenção de esquerda. As críticas frequentemente destacam:
– É vaga e carece de compromissos substantivos, funcionando como uma fachada centrista que não desafia verdadeiramente políticas de esquerda, como expansão do bem-estar social ou regulamentação.
– Ao misturar justiça social com mercados, impede o capitalismo laissez-faire por meio da burocracia, impostos e excessos governamentais, sufocando a iniciativa privada e a liberdade econômica.
– Leva a uma governança ineficaz e a uma deriva em direção a um neoliberalismo insuficientemente pró-mercado.

Comparação

A tabela abaixo compara as três ideologias em dimensões-chave. Elas compartilham compromissos com a democracia e a redução da desigualdade, mas diferem em radicalismo econômico e foco político.

AspectoSocialismo Democrático Social DemocraciaTerceira Via
Sistema econômico Busca substituir o capitalismo pelo socialismo (propriedade pública dos meios de produção).Reforma e regulamenta o capitalismo com estados de bem-estar social; aceita mercados privados.Abraça o capitalismo de mercado com proteções sociais; promove a globalização e a competição.
Papel do EstadoForte intervenção estatal para transformação sistêmica e igualdade.Bem-estar e regulamentação abrangentes, mas equilibrados com os mercados.Papel limitado do Estado; concentra-se em capacitar indivíduos por meio de parcerias e incentivos.
Métodos de mudança Gradual reforms via Reformas graduais via democracia; rejeita a revolução, mas busca mudanças profundas.Reformas incrementais nos sistemas existentes; compromissos pragmáticos.Reformas pragmáticas e centristas; construção de consenso sobre ideologia.
Objetivos principaisDemocracia econômica, controle dos trabalhadores, fim da exploração.Igualdade social, pleno emprego, serviços universais.Oportunidade, inclusão social, crescimento econômico.
Exemplos históricos U.S. Democratic Socialists of America; Socialistas Democráticos da América dos EUA; Partido Trabalhista do Reino Unido (era Corbyn); Bolivarianismo da Venezuela (Hugo Chávez).Estados de bem-estar social nórdicos (Suécia, Noruega); Partido Trabalhista do Reino Unido pós-Segunda Guerra Mundial.Reino Unido sob Blair (1997–2007); EUA sob Clinton (1993–2001).

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